9/11/2006

O Estrangeiro, Albert Camus

Tenho diante de mim uma tarefa importante: comentar e criticar o clássico livro de Albert Camus, O Estrangeiro. Para ser sincero não me recordo com exatidão quando tive o primeiro contato com o autor. Lembro-me que era uma frase sobre o suicídio. Dizia mais ou menos que o verdadeiro problema filosófico é o suicídio, pois trata de uma resposta se a vida vale a pena ou não, ou coisa parecida. Como disse não me recordo com exatidão. O fato é que Camus foi um autor polêmico e que recebeu diversos rótulos, dentre eles, niilista, existencialista, comunista, revoltado e inclusive reacionário. Nasceu na Argélia em 1913 e morreu em 1960 em um acidente de carro.
O livro inicia com a notícia da morte da mãe do Sr. Meursault, o protagonista. No entanto, este fato que aparentemente seria tratado com desespero pela maioria das pessoas, Camus descreve um universo psicológico calmo, comum e com um tom de cotidianeidade que impressiona qualquer leitor. Este universo, confesso, lançou-me no próprio paradoxo de sua realidade incomum. Segue um trecho que elucida bem este sentimento: “Pensei que passara mais um domingo, que mamãe agora já estava enterrada, que ia retomar o trabalho, e que, afinal, nada mudara” (p. 26).
No decorrer do enredo, o Sr. Meursault estabelece algumas relações com um vizinho que o envolve em problemas de violência contra sua namorada. O fato é que a trama se desenvolve a tal ponto que o nosso herói mata o irmão da namorada do amigo. Neste momento inicia a descrição de outra realidade estranha ao protagonista, mas que carrega o mesmo tom de normalidade e cotidianeidade dramática. Camus constrói conexões e elabora questões que não é o fato de estar preso, ou ter matado um homem, ou vivenciado a morte da mãe recentemente, que lhe dão o tom dramático, mas sim a própria existência humana. O fato de estar vivo, preso ou não, que é estranho. “Nessa época, pensei muitas vezes que, se me obrigassem a viver dentro de um tronco seco de árvore, sem outra ocupação além de olhar a flor do céu acima de minha cabeça, ter-me-ia habituado aos poucos” (p. 77).
Camus invadiu minha vida sem pedir licença e me fez questionar a frágil vida diante da morte e dos acasos do destino. As relações com os hábitos, costumes, cultura e valores que nos fazem estrangeiros de nós mesmos. É interessante que essas questões são abordadas durante o julgamento, e, de certa forma, me fez lembrar do universo de Josef K., em O processo, de Franz Kafka, com a justa diferença de que o universo kafkiano é mais intenso, denso e obscuro. Dois trechos elucidam bem este momento em que o nosso herói torna-se estrangeiro de sua vida: “não compreendia bem por que motivo as qualidades de um homem comum podiam tornar-se acusações esmagadoras contra um culpado” (p. 101) e “a mim parecia-me que me afastavam ainda mais do caso, reduziam-me a zero e, de certa forma, substituíam-me” (p. 104).
Este foi o meu olhar do livro que não atendeu as minhas expectativas. É claro que gostei, seria injusto um julgamento negativo com o principal autor que dissertou sobre a teoria do Absurdo. Mas... Por fim, gostaria de terminar com uma frase auto-biográfica de Camus: “lutar até o fim pela liberdade. Manter viva a revolta contra os limites, contra as fórmulas, porque a revolta é o próprio movimento da vida, que não pode ser negada sem que se renuncie a viver”.

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