6/23/2012
11/20/2010
6/25/2008
De Profundis, Oscar Wilde
No decorrer da obra o autor relata vários outros sentimentos que emergem da condição do cárcere. Eu, com minha mesquinha mania acadêmica de destacar trechos e reproduzi-los neste espaço ofereço algumas passagens que achei interessante, sobretudo, pois se tratam de concepções e idéias acerca da arte: “A verdadeira meta da arte moderna não é a extensão, mas a intensidade. Na arte, já não nos preocupam os padrões, mas as exceções [...]. A verdade na arte não é a correspondência entre a idéia essencial e a existência acidental, não é a semelhança entre a forma e a imagem, ou entre a forma refletida no espelho e a própria forma em si; não é o grito que ecoa no vale entre as montanhas, nem o poço de águas prateadas que refletem a imagem da lua pra a lua, ou a imagem de Narciso para Narciso. A verdade na arte é a união da coisa com ela mesma, o exterior tornando-se a expressão do interior, a alma revestida de forma humana, o corpo e seus instintos unidos ao espírito” (p. 102). “O artista está sempre buscando um modo de vida no qual a alma e o corpo sejam uma coisa só, indivisível, em que o exterior seja a expressão do interior e a forma revele tudo” (p. 101).
Outro aspecto interessante relatado é a análise de algumas características da personalidade individualista de Cristo (Isso mesmo, Cristo!). Aliás, o individualismo é recorrente em Wilde, no outro livro que li A alma do homem sob o socialismo este tema também aparece de forma bem interessante. Mas voltamos a Cristo, por exemplo, diz: “Perdoa os teus inimigos”, para Wilde ele “não está prensando no bem do inimigo mas no nosso próprio bem, porque o amor é mais belo do que o ódio. Mesmo quando disse ao jovem: ‘Vende tudo aquilo que possuis e distribui o dinheiro entre os pobres’, não era nos pobres que pensava mas na alma do jovem, naquela alma que a riqueza estava destruindo” (p. 113-114).
Por fim, o maior aprendizado que tem é a convivência com o sofrimento e toda sua beleza.
11/05/2007
6/22/2007
Um teto todo seu, Virginia Woolf
“É um fato curioso como os romancistas têm um jeito de fazer-nos crer que os almoços são invariavelmente memoráveis por algo muito espirituoso que se disse ou muito sábio que se fez. Raramente, porém, reservam sequer uma palavra para o que se comeu. É consenso entre os romancistas não mencionar sopa, salmão e pato, como se sopa, salmão e pato não tivessem importância alguma, como se ninguém jamais tivesse fumado um charuto ou bebido um copo de vinho” (p. 14-15).
“Como já disse que era um dia de outubro, não me atrevo a perder o seu respeito e pôr em risco o bom nome da ficção mudando a estação e descrevendo lilases pendendo de muros de jardins, açafrões, tulipas e outras flores da primavera. A ficção deve ater-se aos fatos e, quanto mais verdadeiros os fatos, melhor a ficção – é o que dizem” (p. 21).
“Entretanto, é em nosso ócio, nos nossos sonhos, que a verdade submersa às vezes vem à tona” (p. 38).
“Sem a autoconfiança, somos como bêbes no berço. E como podemos gerar essa qualidade imponderável, e apesar disso tão inestimável, da maneira mais rápida? Pensando que as outras pessoas são inferiores a nós mesmos. Sentindo que temos alguma superioridade inata” (p. 41).
“Eis por que tanto Napoleão quanto Mussolini insistem tão enfaticamente na inferioridade das mulheres, pois, não fossem elas inferiores, eles deixariam de engrandecer-se” (p. 42-43).
“Realmente nada foi jamais dito pelo próprio artista sobre seu estado de espírito talvez até o século XVIII. Talvez Rousseau tenha começado isso. De qualquer modo, perto de século XIX a consciência de si mesmo de desenvolvera a tal ponto que era um hábito dos homens de letras descreverem o que lhes passava pela mente em confissões e autobiografias” (p. 58).
“... é da natureza do artista importar-se excessivamente com o que se diz dele” (p. 63).
“O dinheiro dignifica aquilo que é frívolo quando não é remunerado” (p. 73).
“As obras-primas não são frutos isolados e solitários; são o resultado de muitos anos de pensar em conjunto, de um pensar através do corpo das pessoas, de modo que a experiência da massa está por trás da voz isolada” (p. 74).
É isso...
6/16/2007
A alma do homem sob o socialismo, Oscar Wilde
“Com o Socialismo não haverá pessoas enfiadas em antros e em trapos imundos, criando filhos doentes e oprimidos pela fome, em ambientes insuportáveis e repulsivos ao extremo. A segurança da sociedade não dependerá, como hoje, das condições climáticas. Se cair uma geada, não teremos uma centena de milhares de homens desempregados, vagando pelas ruas em estado repugnante de miséria, implorando esmolas ao próximo, ou apinhando-se às portas de albergues abomináveis para garantir um pedaço de pão e a pousada suja por uma noite. Cada cidadão irá compartilhar da prosperidade e felicidade geral da sociedade; e, se vier uma geada, ninguém será prejudicado. Por outro lado, o Socialismo em si terá significado simplesmente porque conduzirá ao Individualismo. Se o Socialismo for Autoritário; se houver governos armados de poderes econômicos como estão agora armados de poderes políticos; se, numa palavra, houver Tiranias Industriais, então o derradeiro estado do homem será ainda pior que o primeiro.
A posse da propriedade privada é amiúde desmoralizante ao extremo, e esta é, evidentemente, uma das razões por que o Socialismo quer se ver livre dessa instituição. A propriedade não apenas tem obrigações, mas tantas que sua posse em grandes dimensões toma-se um fardo. Exige dedicação sem fim aos negócios, um sem-fim de deveres e aborrecimentos. Se a propriedade proporcionasse somente prazeres, poderíamos suportá-la, mas suas obrigações a tomam intolerável.
A admissão da propriedade privada, de fato, prejudicou o Individualismo e o obscureceu ao confundir um homem com o que ele possui. Desvirtuou por inteiro o Individualismo. Fez do lucro, e não do aperfeiçoamento, o seu objetivo. De modo que o homem passou a achar que o importante era ter, e não viu que o importante era ser. A verdadeira perfeição do homem reside não no que o homem tem, mas no que o homem é. A propriedade privada esmagou o verdadeiro Individualismo e criou um Individualismo falso. Impediu que uma parcela da comunidade social se individualizasse, fazendo-a passar fome. E também à outra, desviando-a do rumo certo e interpondo-lhe obstáculos no caminho. Numa sociedade como a nossa, em que a propriedade confere distinção, posição social, honra, respeito, títulos e outras coisas agradáveis da mesma ordem, o homem, por natureza ambicioso, fez do acúmulo dessa propriedade seu objetivo, e perseguirá sempre esse acúmulo, exaustivo e tedioso, ainda que venha a obter bem mais do que precise, possa usar ou desfrutar, ou mesmo que chegue até a ignorar quanto possui. O homem irá se matar por excesso de trabalho com o fim de garantir a propriedade, o que não é de surpreender, diante das enormes vantagens que ela oferece. É de lamentar que a sociedade, construída nessas bases, force o homem a uma rotina que o impede de desenvolver livremente o que nele há de maravilhoso, fascinante e agradável. O que um homem realmente tem, é o que está nele. O que está fora dele deveria ser coisa sem importância. Abolida a propriedade privada, haveremos de ter o Individualismo verdadeiro, harmonioso e forte. Ninguém desperdiçará a vida acumulando coisas ou à cata de símbolos para elas. Haverá vida. Viver é o que há de mais raro neste mundo. Muitos existem, e é só. Será algo de maravilhoso quando vislumbrarmos a verdadeira personalidade do homem. Nada terá de provar. Bens materiais não medirão seu valor”.